Mulheres à Obra: construindo lideranças

Mulheres à Obra: construindo lideranças

Referência. Algumas tiveram, outras não. Mas o que há em comum entre as engenheiras Amanda Ferreira, Ana Cecília Gallo, Agatha Pêgo Lopes e Letícia Dias de Souza é que, hoje, elas desempenham esse papel na vida de outras profissionais. Tanto que o assunto rendeu uma live especial do mês das mulheres, transmitida na quinta-feira (21/03) pela TV Crea-SP, no YouTube, sob a temática ‘Mulheres à Obra: a potência da liderança feminina na Engenharia’. 

 

Com apresentação de Letícia, que é engenheira civil, empreendedora, mãe e ainda coordena o Comitê Gestor do Programa Mulher do Crea-SP, elas se reuniram para compartilhar experiências do mercado de trabalho e inspirar outras meninas e mulheres que sonham com a carreira na área tecnológica. “Um dos objetivos do programa é justamente esse, levar apoio e referência. Sempre tive o incentivo dos meus pais, por exemplo, mas sei que muitas não têm isso em casa”, comentou a coordenadora.  

 

Única engenheira eletricista entre as convidadas, Amanda contou que foi a primeira a se formar em Engenharia na família. Ela começou tentando ingressar em Engenharia de Produção, por indicação de uma professora, mas não passou. Depois, tentou a modalidade de Elétrica e a decisão a levou a vivências únicas. “Consegui passar numa federal e, no ano seguinte, fui estudar nos Estados Unidos sem saber falar inglês”, disse. “Ao dar uma palestra, vejo que a postura e atenção das pessoas muda completamente quando digo que sou engenheira eletricista e é preciso passar por várias etapas dessa validação e aprovação”, completou. 

 

A história da engenheira civil Ana Cecília já foi diferente. Ela teve no pai, que é engenheiro, uma inspiração. Depois, ao fazer um curso técnico de edificações e trabalhar com um tio também engenheiro e uma prima arquiteta, se viu ainda mais na profissão. Isso, no entanto, não diminuiu os desafios que precisou enfrentar. “Na faculdade, tive dificuldade em uma disciplina e lembro que um professor disse que eu era muito bonita para estudar Engenharia, que eu deveria procurar um marido”, lembrou. Formada, os reveses passaram a ser outros. “Não havia uniforme para mulheres, eu usava roupas masculinas, e tive um gerente que não permitia usarmos qualquer esmalte que não fosse branco”, afirmou. 

 

Até mesmo os banheiros químicos nas obras tinham que ser compartilhados, porque o custo para instalar toaletes femininos era alto em comparação à quantidade de profissionais que iriam utilizá-los. Ana Cecília explica que essas situações criaram um certo bloqueio à feminilidade. “Passei a acreditar que a cor da minha unha chamaria mais atenção em uma reunião do que o que eu iria explicar. Até pouco tempo, mantive uma postura de mais rigidez na forma de falar e no jeito de me portar. Criei uma dificuldade de comunicação porque me espelhei em homens imperativos. Fui forjada nesse modo masculino de ser e só passei a desconstruir isso nos últimos cinco anos porque percebi que eu não tenho que ter uma ação diferente da minha natureza para ser respeitada”, defendeu a engenheira. 

 

Atualmente, ela lidera uma grande construção da faixa adicional do Rodoanel Mário Covas e soma na trajetória profissional passagens por entregas emblemáticas do metrô de São Paulo, ferrovia, estação de saneamento e obras federais, estaduais e privadas. O papel de liderança de Ana Cecília possibilitou a formação de um time só de mulheres na gestão do trabalho atual, do qual a engenheira civil Agatha faz parte. “Encorajar. Elogiar. Apoiar. Isso faz toda diferença. O encorajar com o reconhecimento dessa capacidade por quem está do nosso lado pode fazer brilhar uma profissional que se sente pequena”, argumentou. Agatha também é da modalidade Civil e está à frente da produção do projeto do Rodoanel. 

 

Elas guiam o futuro equitativo

 

Muitos dos obstáculos que despontam na jornada profissional das mulheres são comuns entre elas e, também em consenso, vão sendo vencidos aos poucos. Ainda assim, existem outros que permeiam não só as profissões, como toda a sociedade. O Crea-SP, como signatário do Pacto Global pela Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU), se baseia especialmente no Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) de número 5 para promover iniciativas de equidade de gênero, colaborando para o empoderamento das mulheres em suas vidas profissionais e pessoais. 

 

Um exemplo é a conquista histórica da Eng. Civ. Lígia Mackey, eleita presidente do Conselho em 2023, pioneira em 90 anos de autarquia. Lígia assumiu o cargo este ano e, em suas primeiras intervenções, já ampliou a presença feminina na diretoria e trouxe novas integrantes para o Comitê Gestor do Programa Mulher. “Nossa intenção é levar incentivo para que mais mulheres ocupem papéis de liderança em engenharia, ciência e tecnologia, a exemplo do que temos em casa”, reforçou a coordenadora Letícia, ao se referir à nova presidente do Conselho. 

 

“As metas de equidade são determinantes. Nós precisamos continuar estudando e nos capacitando, mas, além disso, temos que confiar em nós mesmas e no nosso potencial porque somos completamente capazes”, adicionou Amanda. Para Ana Cecília, é também uma questão de assumir esse compromisso pessoalmente. “Não precisamos esperar para ser convidadas. Homem não pode ver o capô de um carro aberto para ir lá falar e ver o que está acontecendo. Também temos que ser assim. Se conhecemos do assunto, temos que nos posicionar”, finalizou.  

 

ACESSE

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