Poder público sustentável é possível?
Durante o 1º Encontro Nacional de Engenharia Ambiental e Sanitária e o 4º Encontro Paulista de Engenharia Ambiental, ambos realizados no dia 31/01 na Sede Angélica do Crea-SP, foi destacado o protagonismo do profissional da área tecnológica na gestão de negócios focados em desenvolvimento sustentável. O perfil almejado pelo mercado é de um engenheiro ambiental atento às demandas da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU) e às práticas sociais, ambientais e de governança, da sigla em inglês ESG (Environmental, social and governance). Mas, para que essas transformações aconteçam de forma efetiva e tenham resultados significativos na vida das pessoas é preciso ir além do debate técnico e corporativo.
Foi com este intuito que o Conselho convidou ao evento Francisco José Pereira de Lima, mais conhecido como Preto Zezé, o presidente da Central Única das Favelas (CUFA), para falar sobre a relação que pode ser construída entre as políticas públicas e a Engenharia Ambiental. “A CUFA foi criada para que as pessoas pudessem se juntar e falar de temas relevantes para suas vidas e não só do sofrimento que são submetidas. Nosso objetivo é ajudar a pensar e a olhar para as favelas e periferias de outro jeito”, afirmou Preto Zezé para os participantes que acompanharam o encontro presencialmente ou pela transmissão ao vivo no YouTube. Em sua grande maioria, tratava-se de engenheiros ambientais dispostos a pensar em ações propositivas, como a da Central, capazes de promover o desenvolvimento e a cidadania gerando os menores impactos ao meio ambiente.
O desafio desses profissionais é o de se aproximar do poder público para atender às necessidades da população, buscando soluções para os problemas socioambientais. Isso diante de uma realidade no Brasil, em toda sua abrangência e deficiências do crescimento insustentável, que não consegue suprir as principais demandas da população, como moradia, segurança alimentar, saúde etc. Quando este cenário é somado ao aumento no número de pessoas (já são mais de 8 bilhões de habitantes em todo o mundo), especialmente nos centros urbanos, e às desigualdades socioeconômicas, um sinal de alerta para possíveis crises se acende.
O engenheiro ambiental e sanitarista surge com um papel importante de agente multisetorial encarregado de prever alternativas para redução da emissão de gases de efeito estufa e mitigação dos efeitos das emergências climáticas, de planejar o saneamento básico com tratamento de esgoto e oferta de água potável para todos (leia mais sobre este tema aqui), e de projetar a gestão dos resíduos sólidos, entre outras responsabilidades. Ou seja, a atuação desse profissional, que teve sua profissão regulamentada há pouco tempo, definirá a qualidade de vida, da produção responsável, do desenvolvimento sustentável e da saúde do planeta e ele precisa agir entre as esferas pública e privada para isso. “Nós temos poucos profissionais capacitados para isso e precisamos tratar esse assunto como prioridade, pois o poder público acaba sendo ausente, o que causa um grave problema estrutural que culmina no colapso dos serviços à população”, falou o presidente do Crea-SP, Eng. Vinicius Marchese.
O Conselho, enquanto autarquia federal responsável pela fiscalização do exercício das Engenharias, Agronomia e Geociências, também tem suas limitações, mas busca superá-las para contribuir com a formação desse profissional, dialogando com outros órgãos públicos e criando espaços de inclusão e interação como o do 1º ENEAS. “O objetivo é mostrar que sem essa proximidade com a realidade das pessoas, não conseguiremos resolver problemas”, defendeu Marchese.
“O que falta, e os Conselhos podem inspirar isso, é levar esse repertório e traduzir esses debates para a linguagem do asfalto. Ainda há uma distância muito grande entre o conhecimento tecnocientífico e a realidade para que se tenha utilidade no cotidiano das pessoas”, endossou Preto Zezé.
A Mútua/SP, Caixa de Assistência dos Profissionais do Crea-SP, parceira do evento, destacou o quanto o futuro depende da Engenharia Ambiental. “Este futuro está em nossas mãos e devemos fazê-lo da melhor forma”, ponderou o presidente, Eng. Renato Archanjo de Castro.