Mobilização internacional por mais mulheres na tecnologia
Geograficamente distantes, mas vivenciando realidades similares. De diferentes Estados e até países, mulheres da área tecnológica compartilharam suas experiências durante a 78ª SOEA. Na programação do evento, temas afetos às profissionais das Engenharias, Agronomia e Geociências estiveram em pauta com o objetivo de promover a equidade de gênero e a participação de mais mulheres no Sistema Confea/Crea e Mútua.
Na quarta-feira (9/08), a primeira etapa do Painel Mulher, mediado pela conselheira federal da Bahia, Eng. Michele Costa Ramos, recebeu as palestrantes internacionais. Com um panorama do contexto global, a Eng. Alejandra Fogel, vice-presidente do Conselho Profissional de Engenheiros Civis da Argentina, defendeu a necessidade de reformas jurídicas para que haja um tratamento igualitário às mulheres perante a legislação.
Segundo a engenheira, apenas 14 países possuem leis que garantem os mesmos direitos para homens e mulheres. Fogel apontou estudos que evidenciam um incremento do Produto Interno Bruto (PIB), a longo prazo, de cerca de 20% em todos os países que alcançarem a igualdade de gênero.
Direto da Itália, a Eng. Ania Lopez, membro do Conselho Executivo da Federação Mundial de Organizações de Engenharia (FMOI/WFEO – siglas em português e inglês, respectivamente), ressaltou a importância da participação dos homens no debate e apresentou a atuação feminina da Engenharia em seu país. São cerca de 277 mil mulheres engenheiras, segundo o Instituto Italiano de Estatística, o que representa 26,6% dos graduados. Contudo, Lopez observou que ainda há discrepância entre os salários de homens e mulheres da área.
“Tivemos aqui duas realidades completamente diferentes do nosso País, mas ainda muito iguais. As dificuldades que passamos não se restringem a um único local. Essa é uma realidade mundial e precisamos trabalhar para mudá-la. As mulheres têm se reconhecido mais nesse lugar e, com isso, inspiramos novas meninas a ingressarem nas carreiras da área tecnológica”, reforçou Michele Costa.
Em um segundo momento do painel, a Eng. Poliana Krüger, coordenadora do Comitê Gestor do Programa Mulher do Crea-SP, abriu novas discussões e comemorou o fato de que é o segundo ano consecutivo que o projeto participa ativamente da SOEA. Agora, com stand para divulgação dos trabalhos realizados em todo o Brasil. “O nosso propósito é aumentar o número de mulheres no Sistema e esse avanço já é perceptível. Em 2018, tínhamos 14% e hoje são quase 20% de profissionais registradas”, disse.
Da plateia, a conselheira do Crea-RJ, Eng. Gisele Saleiro, que integra o Programa Mulher na autarquia, fez uso da palavra para trazer a sua percepção como professora universitária. “Ainda vejo um bloqueio forte das mulheres que estão cursando engenharia em se verem em cargos como CEO, presidentes, chefes de empresa. A todo momento, nós mulheres precisamos comprovar a nossa capacidade. Como podemos trabalhar para modificar essa realidade e trazer esse fortalecimento”, indagou.
Em resposta, a coordenadora do programa Aceleradora de Carreiras, do Comitê de Igualdade Racial no Grupo Mulheres do Brasil, Adriana Alves, destacou dois pontos primordiais: representatividade e uma urgente reformulação da avaliação de performance. “Por isso tanto falamos de mulheres em cargos de alta liderança, pessoas negras, pessoas com deficiência (PcD), pois só enxergamos essa representatividade na base”, avaliou.
Já nesta quinta-feira (10/08), a SOEA abriu espaço para palestra da vice-presidente da Ordem dos Engenheiros de Portugal (OEP), Eng. Lídia Santiago, sobre o Congresso Ibero-Americano de Mulheres na Engenharia de 2024. Apresentando um histórico sobre a constituição das entidades representativas da área tecnológica, a engenheira reforçou a importância da participação feminina. “Temos apenas 24% das mulheres em cargos de alta liderança no mundo todo. Portanto, isso significa que as cotas ainda são necessárias. Por exemplo, em 2019, em Portugal, foi instituída a obrigatoriedade de 30% de mulheres e foi assim que entrei como vice-presidente”, contou.
Além disso, Santiago destacou a criação do grupo de mulheres engenheiras luso-hispânicas em 2020, com 16 países. Atualmente, são mais de 28 nações envolvidas. “O Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 17 da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU) fala sobre as parcerias para a implementação desses objetivos e os grupos de trabalho que se formam precisam ser complementares. Nós fazemos acontecer, mas depois a nossa missão está cumprida. A obra feita que nos ultrapassa e já anda por si. É isso que pretendemos, que as mulheres avancem”, acrescentou.
Fechando os debates, a diretora de Entidades do Crea-SP, Eng. Lígia Marta Mackey, enalteceu a contribuição da vice-presidente da OEP. “Todo o conteúdo da palestra da Lídia vai ao encontro do que temos trabalhado no Programa Mulher, sob a coordenação da Eng. Poliana. Atuamos para aumentar o protagonismo das mulheres em cargos de liderança, no Sistema e na área tecnológica. A sala cheia hoje nos enche de orgulho, pois mostra a importância do tema e ajuda a incentivar e fomentar uma maior participação feminina”, concluiu.